top of page

Dom João I - O de Boa Memória

  • Glaucy Lucas
  • 7 de jan. de 2019
  • 7 min de leitura

Atualizado: 12 de jul. de 2021

"Agora vejo eu, filho, senhor, a diferença que há entre os filhos dos reis aos outros homens." - Álvaro Pais

ree

As exéquias de D. Fernando foram muito simples e a rainha não foi ao enterro. Morreu aos 53 anos, dos quais reinou 16. Tão logo soube da morte do rei de Portugal, Dom João I, da dinastia de Trastâmara, fez-se aclamar como rei de Portugal e Castela, disto dando conta à rainha D. Leonor, a quem mandou carta para que fosse D. Beatriz aclamada como rainha de Portugal. Dona Leonor ordenou que saíssem com a bandeira pelas ruas a bradar: "Real, real por D. Beatriz de Castela". Isto fez ela consultando apenas os nobres que a apoiavam, sem temer os seus contrários e o ódio que lhe devotava o povo. Aos nobres impunha-se uma reação com firmeza de ânimo, bem estudada de modo a sair de situação de tamanha gravidade sem danos para o reino. Mas o povo se alvoroçou, começando uma insurreição ao ouvir tal proclama. Estava ali a ouvir este pregão o Conde Álvaro Peres de Castro, que começou a clamar pelos direitos de seu sobrinho, o Infante D. João, filho de D. Pedro I e Inez, que era Conde em Castela. Demonstrando com fortes argumentos, dizia ele que o Infante D. João de Portugal continuaria a manter o reino soberano, enquanto D. Beatriz iria submetê-lo a Castela. Uniu-se a voz do povo ao Conde Álvaro Peres de Castro em favor do Infante D. João, ajuntando o clamor às armas. Em Santarém, os homens puxaram da espada contra os que levavam bandeira por D. Beatriz, o mesmo sucedendo em outras cidades. O movimento dos descontentes alastrou-se por todo o reino e já ninguém se continha.


Em vida do rei D. Fernando havia chegado ao reino o Conde João Fernandes de Andeiro, que estava em Inglaterra. Ali veio a mando do rei de Castela depois de receber aviso sobre a saúde do rei D. Fernando. O Conde de Andeiro foi plantado no palácio para exercer o papel de coordenador dos planos do rei D. João I de Castela. Neste serviço esmerou-se e superou as expectativas de Castela, vivendo portas a dentro, como amigo íntimo da rainha, estando sempre com ela. Dizem que D. Leonor engravidou dele algumas vezes para alcançar um filho varão para herdar o trono como filho legítimo do rei. Mas suas esperanças foram frustradas e nenhum filho lhe nasceu. Esta amizade tão profunda propiciou ao Conde a força necessária para induzir a rainha a tomar as decisões a favor do rei de Castela, cujo primeiro passo foi descumprir o Tratado de Salvaterra de Magos que, em suas cláusulas, vedava-lhe o trono. Para além dessa desonra, estava o risco de se perder o reino, desonra esta que tocava até o Conde D. Henrique de Borgonha, que tanto lutara para livrar o então Condado Portucalense das vis pretensões de Castela. Os nobres fiéis ao rei tinham consciência desse perigo e desejavam muito afastá-lo do trono e tirar toda a desonra. Mas não viam como fazê-lo, visto tratar-se de uma pessoa enviada ao reino, com um considerável apoio militar, e amigo íntimo da rainha. Por outro lado, faltava-lhes o sucessor ao trono, porque estando ele vago, os perigos eram maiores. Dona Leonor como regente podia ser cerceada, controlada, embargada nos seus atos, com o que ganhavam tempo para receber o Infante herdeiro sem entrar em guerra com Castela. Mas esta via foi-lhes cortada. O rei de Castela prendeu o Infante D. João no castelo de Almonacide, em outubro de 1383. Em meio a estas aflições da corte e as revoltas populares, reuniram-se os nobres fiéis em Lisboa para deliberar sobre o caminho a tomar.

Vivia em Lisboa um certo Álvaro Pais, que fora chanceler do rei D. Pedro I, e junto com o povo sofria as desventuras do reino, lamentando a sua incapacidade para agir por ser doente. Contudo, nunca deixou de ter influência junto à corte, acompanhando de perto tudo que se passava no palácio. Depois de se reunirem, os nobres enviaram a Álvaro Pais o Conde de Barcelos para com ele estudarem um plano de salvação a ser executado com os recursos que dispunham. Chegaram à conclusão de que o único meio para salvar Portugal era apoiar o Mestre de Avis como legítimo herdeiro de D. Fernando, por ser filho de D. Pedro I. Álvaro Pais ficou com a incumbência de chamar o Mestre e expor-lhe todo o plano. O Mestre aceitou como dever matar o Conde de Andeiro e limpar a honra do rei, mas o trono pertencia ao Infante João Afonso. As dúvidas e hesitações do Mestre provinham do fato de estar vivo o seu irmão Infante João, que estava em Espanha. Não queria ser o usurpador daquele a quem dedicava sincero afeto. Assim concertados, parte o Mestre para o paço no dia 6 de dezembro de 1383, mata o Conde de Andeiro e toma o caminho de suas terras, dando por cumprida a sua missão. Dona Leonor foge para Alenquer e pede ajuda à Castela, que invade o reino pela cidade da Guarda, em fins de dezembro de 1383. Não se tinha afastado de Lisboa o Mestre, quando o fizeram retornar para organizar tropas e expulsar o invasor. O reino estava dividido: uns clamavam por D. Leonor; outros pela sua filha Beatriz e seu marido rei de Espanha; uns pelo Infante D. João, outros pelo Mestre de Avis. O conflito durou um ano e D. Nuno Àlvares Pereira foi de grande ajuda para a vitória no Alentejo e em Lisboa.

Pacificado o reino, as cortes se reuniram a 6 de abril de 1385, em Coimbra, subindo ao trono o Mestre de Avis como D. João I, rei de Portugal. Nesta oportunidade, as cortes terçaram as armas do verbo em torno da legitimidade de D. João I. Em defesa do Mestre de Avis discursou o Doutor João das Regras, aniquilando os argumentos apresentados pelo rei de Castela em que reivindicava direito ao trono. João das Regras falou da quebra do Tratado de Salvaterra de Magos; A varonia de D. Beatriz, que como consorte do rei de Castela, invalidava seus direitos ao trono; da perda de direitos do Infante por ter assassinado a primeira esposa; por ser o Infante Conde em Castela; por não ter o rei D. Pedro I apresentado documentos que comprovassem seu casamento com Inês de Castro. Restava como legítimo herdeiro do trono o Mestre de Avis, o filho de D. Pedro I, a viver em Portugal e procurar o bem e defesa do reino.


Ainda que os contrários vejam como fraca e insipiente a defesa do Doutor João das Regras, foi o bastante para que o reino de Portugal seguisse rumo à glória. Com o trono vago e os invasores na fronteira, não havia como esperar por maiores explicações. Se o rei D. Pedro I tivesse casado com Inês, seu filho o Infante João Afonso, teria plena consciência de sua legitimidade e evitaria qualquer ato tresloucado que o prejudicasse. Na certeza de seus direitos, não pensaria em abrir caminho para o trono pelo casamento com D. Beatriz, a filha do rei D. Fernando. Vivendo na corte, conhecia a sua intimidade e sabia que não havia herdeiro varão. Sendo príncipe herdeiro em Portugal, não podia aceitar casar na casa de Trastâmara, ser conde e prestar vassalagem à Castela. Quanto à D. Beatriz, falecem seus direitos ao trono pelo casamento com o rei de Castela; passou ela a pertencer à Castela e dá à luz filhos para D. João I de Castela; a geração é de Castela e não de Portugal. Tanto assim é que, em toda casa real europeia, a princesa noiva é conduzida pelos nobres do rei seu pai até na raia indicada para isso, que é sempre na fronteira; ali é feita uma cerimônia de recebimento em que os papéis são assinados. Passando ela ao outro reino, é recebida pelos grandes da corte que a levam ao noivo como membro daquela família; já no palácio do príncipe consorte, realiza-se a festa do casamento. Mas, os nobres que conduzem a noiva princesa voltam sem entrar no reino do príncipe consorte. O rei Luís XVI de França cumpriu este protocolo no século XVIII; e, no século XIX, o csar da Rússia, Nicolau II, fez o mesmo. A noiva é levada até à fronteira porque se desliga para sempre do reino de seu pai. Isto prefigura o casamento de Jesus com a igreja, sua noiva. O Espírito santo a conduz aos ares onde é recebida pela corte celeste e levada ao banquete onde são proclamadas as bodas a todo o reino.


Ainda sobre Teresa Lourenço esclarecemos que D. Paio Guterres, ou Pelaio Guterres, ou Pelagio Gutierres na linguagem mais antiga, natural da Gasconha, amigo e companheiro do Conde D. Henrique, era padrinho de Afonso Henriques. Foi um grande senhor cujas terras iam de Póvoa de Varzim até Torre de Moncorvo. No seu brasão estão os dois pássaros na base: um de frente para o outro; são os mesmos do brasão da cidade de Torre de Moncorvo. Este é o vigésimo sexto avô de Teresa Lourenço. Paio Guterres da Cunha recebeu este apelido por ter havido uma questão de terras com um convento que nelas havia, e porque foram divididas as terras entre os filhos. Fernão Pais da Cunha, vigésimo quarto avô se tornou o primeiro senhor da Tábua. É oportuno dizer que o nome Pais quer dizer que Fernão é filho de Paio. Também consta das Crônicas, que Margarida Lourenço, irmã de Teresa Lourenço, vivia na corte do rei D. Pedro I. Procuramos, assim, demonstrar que o rei D. João I trazia no sangue a linhagem da Borgonha, pois pelo lado paterno tinha o sangue de D. Pedro I e, pelo lado materno, Dona Tereza Lourenço tinha sangue nobre da Borgonha.


Inconformada, Castela invade Portugal no mês de junho deste mesmo ano e vai direto à Lisboa para arrancar D. João I do trono. O rei e o Condestável Nuno Álvares Pereira juntam-se para a batalha decisiva, ajudados pelo Duque de Lancaster. A 14 de agosto, nos arredores de Alcobaça, é travada a batalha de Aljubarrota. Mesmo com a vantagem de 4 para 1, o exército castelhano foi desbaratado e quase aniquilado. Em 1411 foi assinada a paz que pôs fim aos conflitos e pretensões de Castela. Em 1390, morre D. João I de Castela, falecendo com ele sua linhagem por lhe faltar herdeiros.


Em 1387, D. João I casa com Filipa de Lencastre, fillha de João de Gant, Duque de Lancaster. Tiveram nove filhos. Procede deste enlace a ínclita geração, nome dado por Camões na sua obra "Os Lusíadas":

Branca e Afonso morreram na infância;

D. Duarte, o Eloquente, o Filósofo, que o sucedeu;

D. Pedro, Duque de Coimbra, o príncipe das sete partidas;

D. Henrique, Duque de Viseu, o Navegador;

D. Isabel, que casou com um Duque da Borgonha;

D. Branca II

D. João, Condestável;

D. Fernando, o Infante Santo;

Teve três filhos bastardos:

D. Afonso I, Duque de Bragança;

D. Branca III;

D. Beatriz, Condessa de Arondel.

 
 
 

Comentários


© 2018 criado por Tenisoy com a plataforma Wix

  • Facebook Black Round
  • Preto Ícone YouTube
bottom of page